ENSAIO
CPLP reforça liderança na segurança petrolífera mundial
Cerca de 40% da produção incremental de petróleo e gás dos 25 maiores projectos de produção mundiais, até 2020, irá estar concentrada no Atlântico Sul, mais propriamente no Brasil e em Angola
RÚBEN EIRAS
O mundo de língua portuguesa não só está a consolidar a sua liderança como espaço geopolífico estratégico no que respeita ao abastecimento de petróleo como também está a afirmar a excelência da sua capacidade empresarial neste sector.
Com efeito, cerca de 40% da produção incremental de petróleo e gás dos 25 maiores projectos de produção mundiais, até 2020, irá estar concentrada no Atlântico Sul, mais propriamente no Brasil e em Angola.
Segundo as últimas projecções realizadas pela consultora Wood Mackenzie, às quais o Programa FLAD Segurança Energética teve acesso, no período decorrente de 2014 a 2017, o Brasil será responsável pela produção de 30% (727 000 bbl/d) dos 2 456 000 barris diários produzidos neste ranking, cabendo a Angola 6%.
No período de 2017-2020, as projecções apontam para uma subida da produção brasileira para 804 mil barris por dia, passando a representar 27% da produção incremental dos 25 maiores projectos mundiais. Em contraste, é prevista uma triplicação da produção angolana, para 421000 bbl/d, ou seja, 14% do petróleo e gás adicional deste ranking.
Até 2020, a vasta maioria destas fontes de produção já estarão em funcionamento ou em fase final de desenvolvimento, facto que mitiga o risco do actual ciclo de baixa do preço do barril de petróleo.
É de notar que os 40% da produção adicional provenientes do Brasil e de Angola são fontes localizadas em águas ultraprofundas.
E é exactamente neste espaço geopolítico e ambiente de produção (o do petróleo marítimo) que se situa a empresa com um dos maiores potenciais de rentabilidade, advindo dos novos projectos petrolíferos que vão marcar a presente década: a Galp Energia.
Com efeito, segundo a última análise da Goldman Sachs "420 projects to change the world", a international oil company (IOC) de base portuguesa é aquela com melhores perspectivas de crescimento da rentabilidade, pois apresenta o melhor equilíbrio entre aumento da produção (+36%), aumento do cash-flow derivado de novos projectos (14%) e crescimento assente num portefólio diversificado. Ou seja, de acordo com aquele relatório, mesmo com o preço do barril a oscilar entre os $50 e os $60, a IOC portuguesa não só revela grande capacidade de resiliência, mas também de boa governança dos seus activos energéticos.
Portanto, estes dados vêm reforçar a perspectiva, por um lado, de que o Atlântico Sul da esfera lusófona (sobretudo Brasil e Angola) é uma crucial fonte alternativa para o reforço da segurança do abastecimento do espaço europeu. Não só são geografias em que o risco geopolítico relacionado com a nacionalidade dos recursos e instabilidade política é baixo ou moderado, como também em que os respectivos projectos de produção geram atractivas oportunidades para o comércio tecnológico europeu, em virtude da elevada complexidade das operações.
Por outro lado, estes sinais também indicam a importância estratégica da capacitação empresarial para uma segurança energética sustentável. Isto é, não basta a IOC de base portuguesa assegurar o acesso a importantes reservas petrolíferas - também está a conseguir fazê-lo de forma excelente, eficiente e rentável, assegurando segurança e prosperidade no longo prazo. Este factor é muito importante, pois é crucial para aumentar a atracção de capital necessário para o desenvolvimento de projectos de produção de elevadíssima complexidade no contexto das águas ultraprofundas.
Portanto, o espaço lusófono, na sua globalidade, possui reservas e recursos petrolíferos em quantidades significativas, bem como crescente capacidade empresarial para a sua melhor rentabilização. Se a estes factores aliarmos o poder tecnológico do Brasil (Petrobras) em alguns nichos das geociências e da engenharia de petróleo de águas profundas e ultraprofundas, verificamos que a dinamização da cooperação científica e industrial na actividade do petróleo e gás offshore é vital para a prosperidade sustentável do espaço CPLP.
Em suma, é a segurança relacionada com o petróleo e gás que está a transformar o espaço lusófono num actor relevante nas redes de interdependência mundiais comerciais, financeiras, energéticas e industriais de alto nível.